O bicentenário de Darwin vem causando confusões desnecessárias. Não é intento deste artigo abordar os vários ângulos do evolucionismo, mas mostrar que a tese do evolucionismo bem entendida não significa a negação do criacionismo. Daí o erro crasso que se lê na Imprensa como nesta assertiva:m “Embora o criacionismo não tenha qualquer base científica, o assunto deveria ser discutido nas salas de aula”. Com efeito, o criacionismo, doutrina da origem dos seres por criação, oposta à evolução espontânea, tem firme base filosófica e a Filosofia é uma ciência. Embora não defenda esta idéia, na Suma Teológica, Santo Tomás de Aquino mostrou que é possível que se admita a matéria eterna, contanto que se ressalte que, desde toda a eternidade, Deus a tenha criado. A matéria é contingente, finita, limitada. A questão em tela traz, portanto, à baila a tese da potência criadora do Ser Supremo. O poder divino é, como dizem os filósofos, virtualmente transitivo, ou seja, tem capacidade de produzir efeitos exteriores, de criar. Quando se fala em criação o que se quer afirmar é a absoluta dependência do mundo e de todos os seres em relação a Deus. O mundo não existe por si, e sim, procede necessariamente, absolutamente, do Criador e de um ato da Sua liberdade soberana. Contudo, o ato pelo qual Deus produz a universalidade do ser ultrapassa os limites da inteligência humana. Negar a criação é asseverar que o universo existe por si próprio, o que repugna à razão do homem, pois é um absurdo. O ser universal, substância e todos os atributos que o afetam, inclusive a duração, nasceram de um ato absoluto e intemporal do Criador. Como todos os seres são contingentes, a permanência deles na existência só se explica adequadamente porque a existência e a vida lhes foram transmitidas. A todo momento tais seres e o universo inteiro dependem da Causa Primeira. Esta dependência leva à continuação do ato criador, ou seja, Deus tudo conserva na existência. Daí a Providência divina, ou seja, Deus sustenta e conduz todas as coisas. Adite-se que Deus, Criador do céu e da terra, é uma das verdades basilares da fé. Isto significa que o Ser Supremo tirou do nada tudo aquilo que veio a existir ou que existirá. Deus ser absolutamente necessário por si mesmo é invariável, isto é, não susceptível de nenhuma mudança, de nenhuma evolução, mas é necessariamente tudo que Ele é por sua essência e não por outro. É também eterno, não tendo começo, pois, do contrário seria contingente. É increado, existente em virtude de sua própria natureza. É, como afirmou, Aristóteles, Ato Puro, dado que qualquer potencialidade inclui mutabilidade e composição e, portanto, dependência de outro. É infinitamente perfeito, sem limitação alguma, tendo toda a perfeição do ser, ou seja, todos os modos de existir. É um Ser simples e indivisível, incorpóreo e imaterial, espiritual e inteligente. Tais atributos não convém a nenhum dos seres do universo nem ao conjunto deles. Deus é a verdade eterna e infalível e, por isso, é sempre a mesma verdade. Feliz o que crê e repete com Davi: “Narram os céus a glória de Deus, e o firmamento anuncia a obra de suas mãos. O dia ao outro transmite essa mensagem, e uma noite à outra a repete. Não é uma língua nem são palavras, cujo sentido não se perceba, porque por toda a terra se espalha o seu ruído, e até os confins do mundo a sua voz; aí armou Deus para o sol uma tenda (Sl 18,1-5). Herschel, astrônomo alemão do século XIX asseverou: “Quanto mais se dilata o campo da ciência, mais numerosas e irrecusáveis se oferecem as demonstrações da existência eterna, de uma inteligência criadora e onipotente: geólogos, matemáticos, astrônomos, naturalistas, todos têm levado a sua pedra a este grande templo da ciência, templo elevado por Deus”. A verdade é que, quanto mais o autêntico cientista aprofunda os mistérios da natureza, tanto mais cativo ficará do reflexo da Divindade!