Concedei a vosso servo esta graça: que eu viva guardando vossas palavras (Sl 118,17)
Segundo o documento da Comissão Pontifícia Bíblica: A interpretação da Bíblia na Igreja, ainda que os estudiosos bíblicos tenham a função de interpretar as Sagradas Escrituras, esse trabalho não compete somente a eles, pois a leitura e vivência dos textos bíblicos vão além das análises acadêmicas, já que, a Bíblia não é apenas um conjunto de livros históricos, mas é a Palavra de Deus.
E essa Palavra se torna atual e responde aos questionamentos e angústias do homem pós contemporâneo. Por isso, a leitura e estudo bíblico deve ser feito por todos, uma vez que proporciona uma experiência de fé prática e atual. Mas é também por isso que é preciso tomar certos cuidados e se ter critérios na leitura e interpretação dos textos bíblicos para que não haja o risco de uma interpretação desvinculada e sem compromisso com a Tradição e o Magistério da Igreja, pois ambos garantem um entendimento seguro das Sagradas Escrituras ao longo da história de fé do Povo de Deus.
Para isso, torna-se necessário tratar de algumas questões ligadas à exegese e hermenêutica bíblicas. Mas não é preciso espanto, pois essas palavras (exegese e hermenêutica) estão mais presentes na prática bíblica do que se possa imaginar. E também, não se trata aqui de um estudo científico, mas o uso dessa linguagem é para mostrar as etapas necessárias para um correto entendimento da Bíblia.
Comecemos então, pela definição desses termos: Exegese é uma palavra que vem do grego e significa: explicação ou explanação. É a arte de expor, de trazer para fora o sentido de um determinado texto. É um conjunto de técnicas e ferramentas utilizadas para entender e descobrir o significado de um texto. Hermenêutica já diz respeito à interpretação do que está escrito. É a apropriação que se faz do entendimento do texto para aplicá-lo no dia-a-dia.
Mas existe no meio do caminho entre a exegese e a hermenêutica um filtro. E que filtro é esse? A Doutrina da Igreja, o Catecismo da Igreja Católica. Esse procedimento de filtrar o estudo bíblico serve basicamente para duas coisas: não permitir os exageros e também para ampliar a interpretação quando ela é muito limitada. E, em geral, muito mais amplia do que reduz as interpretações, uma vez que, são apresentadas outras possibilidades de entendimento do texto que talvez não tenham sido contempladas no estudo.
É como o antigo filtro de barro muito usado, especialmente, nas cidades pequenas e nas zonas rurais. O filtro de barro não é feito para reter a água, mas para purificá-la. Da mesma maneira o filtro da Doutrina, não retém a nossa leitura da Bíblia, mas a deixa livre de impurezas que porventura possam ter surgido durante o momento de estudo da Palavra. Além disso, o filtro de barro possui a capacidade de deixar a água sempre fresca e pronta para ser consumida. Igualmente faz o filtro da Doutrina, que atualiza para nossos dias aquilo que lemos e interpretamos nas Sagradas Escrituras, deixando a mensagem bíblica pronta para saborearmos e utilizarmos no dia-a-dia.
Que se sigam essas três etapas para o entendimento bíblico: estudar com atenção, trazendo a tona o máximo de informações possíveis para um conhecimento mais aprofundado do texto – passar esse conteúdo pelo filtro da Doutrina para purificar e atualizar o conteúdo – e aplicar a Palavra de Deus na própria vida.
Ler superficialmente o texto, sem um mínimo de contextualização e sem consultar a Igreja, faz correr o risco de uma aplicação do texto bíblico de maneira equivocada, podendo causar danos si e àqueles a quem se transmite o entendimento do texto. Daí a importância desses três momentos: estudo mais cuidadoso (exegese) – filtro da Doutrina (catecismo) – interpretação e aplicação no dia-a-dia (hermenêutica).