Falar de vocação é sempre um caminho a se percorrer indefinidamente. Há sempre novos horizontes e matizes diferentes. Ainda assim, propusemo-nos a percorrer, nos parágrafos seguintes, por algumas possibilidades que Deus oferece-nos por meio da nossa Igreja para a nossa realização e santificação. Caminhemos…
Toda a vida cristã, desde o batismo, traz a marca do amor esponsal de Cristo e da Igreja. O matrimônio cristão é, por sua vez, sinal eficaz, sacramento da aliança de Cristo e da Igreja. O Catecismo nos ensina que Deus é o autor do matrimônio (CIC1603). Assim, percebe-se que o casamento não é uma instituição simplesmente humana. Ele foi por muito tempo entendido como algo para aqueles que não têm vocação. Todavia, ordenado ao bem dos cônjuges, como também à geração e educação dos filhos, o matrimônio se mostra como uma missão belíssima: a de ser colaborador na obra da criação. É para esta grande honra que “um homem deixa seu pai e sua mãe, une-se à sua mulher, e eles se tornam uma só carne” (Gn 2,24).
Em contrapartida, quando se fala em sacerdócio, temos mais facilidade em assimilá-lo como uma vocação. O que talvez muitos desconheçam é que todos nós somos chamados a exercer o sacerdócio batismal por meio de nossa participação, cada qual segundo sua própria vocação, na missão de Cristo, Sacerdote, Profeta e Rei. Todavia, enquanto o sacerdócio comum dos fiéis se realiza no desenvolvimento da graça batismal, o sacerdócio ministerial, ou seja o dos padres e bispos, está a serviço do sacerdócio comum, refere-se ao desenvolvimento da graça batismal de todos os cristãos. Por isso, é transmitido por um sacramento próprio, o sacramento da Ordem.
O estado de vida consagrada aparece como uma das maneiras de conhecer uma consagração “mais íntima”, que se radica no Batismo e se dedica totalmente a Deus. Na vida consagrada, a pessoa se propõe, sob a moção do Espírito Santo, seguir a Cristo mais de perto, doar-se a Deus, procurando alcançar a perfeição da caridade a serviço do Reino, significar e anunciar na Igreja a glória do mundo futuro.
“Desde os primórdios da Igreja existiram homens e mulheres que se propuseram, pela prática dos conselhos evangélicos, seguir a Cristo com maior liberdade e imitá-lo mais de perto, e levaram, cada qual a seu modo, uma vida consagrada a Deus. Dentre eles, muitos, por inspiração do Espírito Santo, ou passaram a vida na solidão ou fundaram famílias religiosas, que a Igreja, de boa vontade, recebeu e aprovou com sua autoridade” (CIC 918). Naturalmente, isso acontece até hoje graças à criatividade do nosso Deus. Exemplos disso são as chamadas “Novas Comunidades” que surgiram nas últimas décadas e que continuam aparecendo a cada dia, cada qual com seu carisma particular, como uma resposta às sementes plantadas por Deus no coração do homem. Sabiamente, foram denominadas pelo saudoso papa João Paulo II como a “Primavera da Igreja” e são chamadas de novas por abrigar novas formas de vida evangélica, novas maneiras de viverem os conselhos evangélicos, visto que, num mesmo clima fraterno, convivem todos os estados de vida: os padres, irmãos, irmãs e casais.
Num outro âmbito, temos a vocação religiosa. De origem já secular, ela faz parte do mistério da Igreja. É um dom que a Igreja recebe de seu Senhor e que oferece como um estado de vida permanente ao fiel chamado por Deus na profissão dos conselhos evangélicos de castidade, pobreza e obediência. Assim, a Igreja pode ao mesmo tempo manifestar o Cristo e reconhecer-se como esposa do Salvador. A vida religiosa é convidada a significar, em suas variadas formas, a própria caridade de Deus, em linguagem de nossa época.
Podemos citar ainda os institutos seculares. Estes são institutos de vida consagrada nos quais os fiéis, vivendo no mundo, tendem à perfeição da caridade e procuram cooperar para a santificação do mundo. Seus membros participam da tarefa de evangelização da Igreja e mantêm entre si a comunhão e a fraternidade próprias de seu “modo de vida secular”
Acrescenta-se ainda mais um ramo nesta árvore frondosa que é a nossa Igreja: as sociedades de vida apostólica. Seus membros, sem os votos religiosos, buscam a finalidade apostólica própria de sua sociedade, levando uma vida fraterna comum.
Para finalizar, mesmo sabendo que o itinerário ainda está incompleto, devemos falar daqueles que, casados ou celibatários, por sua vocação, buscam o Reino de Deus exercendo funções temporais e ordenando-as segundo Deus: os leigos. Sob o nome de leigos, entende-se no Catecismo, todos os cristãos, exceto os membros das Sagradas Ordens ou do estado religioso reconhecido na Igreja. O papa Pio XII afirmou que “os fiéis leigos estão na linha mais avançada da vida da Igreja: graças a eles a Igreja é o principio vital da sociedade humana. Por isso, eles devem ter uma consciência sempre mais clara não somente de pertencerem à Igreja, mas de serem Igreja”.
Assim sendo, todos nós, cada qual em sua vocação, somos chamados a sermos missionários, a sairmos de nós mesmos e anunciar a Boa Nova de Jesus. Se não sabemos ainda como, finalizo com um pensamento de Santa Teresinha do Menino Jesus, aquela que foi proclamada padroeira das missões, sem nunca ter saído do mosteiro: “Sim, encontrei o meu lugar na Igreja, e tal lugar, ó meu Deus, fostes vós que mo destes… No coração da Igreja, minha Mãe, serei o amor… Assim serei tudo”.