Ensinamentos práticos para entrar na vida eterna deixou Cristo em toda sua pregação e desceu, muitas vezes, a detalhes como se lê no Evangelho de São Marcos (9, 38-48). Cumpre se evite tudo que compromete a salvação da alma. Vem à baila a célebre advertência de Santo Agostinho: “Aquele que te salvou sem ti, não te salvará sem ti”. Cumpre total, absoluta correspondência à graça. Aos Filipenses São Paulo admoestou: “Trabalhai com tremor e temor na realização da vossa salvação”. É a fé no Filho de Deus de que fala a Carta aos Romanos: “Porque nele se revela a justiça de Deus, que se obtém pela fé e conduz à fé, como está escrito: O justo viverá pela fé (Rm 1,17), ou seja, praticando aquilo em que se crê. Com efeito, o mesmo Apóstolo alertou a Timóteo: “Empenha-te em ser constante, pois, em assim procedendo, salvar-te-ás a ti e aos teus ouvintes” (1 Tm 4,16). De sua parte Deus oferece gratuitamente a salvação num gesto de bondade, de amor, de misericórdia. É preciso ao homem aceitar este presente. A incredulidade, o desinteresse e a prática do mal bloqueiam a maravilhosa dádiva divina. Foi dito aos Gálatas: “Os que pertencem a Cristo crucificaram a carne com as suas paixões e os seus desejos” (Gl 5,24). Sem passar pela cruz, pelo sacrifício, fazendo morrer o velho homem é impossível ressuscitar e revestir o homem novo e dar fruto para a vida eterna. Lembra o conselho paulino: “Considerai-vos mortos para o pecado e vivos para Deus em Cristo Jesus (Rm 6,11). Fica, deste modo, comprovado que Jesus não salva sem a cooperação humana. Claras as palavras do Filho de Deus: “Se tua mão te leva pecar, corta-a! É melhor entrar na vida sem uma das mãos do que, tendo as duas, ir para o inferno, para o fogo que nunca se apaga. Se teu pé te leva a pecar, corta-o! É melhor entrar na vida sem um dos pés do que, tendo os dois, ser jogado no inferno. Se teu olho te leva a pecar, arranca-o! É melhor entrar no reino de Deus com um olho só do que, tendo os dois, ser jogado no inferno, onde o verme deles não morre e o fogo não se apaga” (Mc 9, 43-48). O que Ele queria, evidentemente, dizer é que é necessário fugir das ocasiões de pecado. Já o livro Eclesiástico ensinava: “Quem ama o perigo nele perecerá” (Ecl 3,27). O verdadeiro cristão que quer se salvar é prudente e evita tudo que possa macular, enodar sua consciência. É mister, além disto, seguir à risca o preceito de Cristo: “Vigiai e orai, para não sucumbir à tentação” (Mt 26,41). A vigilância dos sentidos inclui o cuidado em escolher os programas televisivos, os filmes, e jamais entrar em sites pornográficos; a mortificação da língua, não se empregando um palavreado obsceno; o controle da imaginação que não deve ser alimentada com pensamentos e leituras impudicas e, mormente, a guarda do coração o qual se extravia com tanta facilidade. A tudo isto se acrescente a freqüência dos sacramentos, o viver na presença de Deus e do Anjo da guarda. A invocação contínua da Virgem Maria e demais jaculatórias que conduzem à prática das virtudes. Tudo isto é necessário porque Cristo deixou claro que “não é aquele que diz Senhor, Senhor que entrará no reino dos céus, mas sim aquele que faz a vontade do Pai” (Mt 7,21). Isto significa corresponder às inspirações divinas, como alertou São Paulo: “Exortamo-vos a não receberdes em vão a graça de Deus. Pois ele diz: “No tempo favorável, te escutei, e no tempo da salvação, te socorri”. Ei-lo agora o tempo favorável; ei-lo agora, o dia da salvação” (2 Cor 1-2). De todas as verdades teológicas e filosóficas uma das mais complexas é a conciliação da liberdade humana com a onipotência e a onisciência divinas. Regulando nossos destinos por um sistema de sabedoria que ultrapassa a capacidade cognoscitiva da razão humana, o Todo-Poderoso assiste o desenrolar dos atos humanos e só Ele sabe até que ponto pode chegar a malícia de cada um para fechar definitivamente as vias do perdão e da clemência. Portanto, enquanto temos tempo, façamos o bem (Gl 6,10).