Após sua ressurreição, tendo dado a prova definitiva de sua divindade, Jesus disse aos Apóstolos: “Recebei o Espírito Santo. A quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados; a quem os não perdoardes, eles lhes serão retidos!” (Jo 20,23). Sem a fé as verdades bíblicas e a doutrina da Igreja não possuem sentido, são vistas como algo até ridículo. Falta o meio, o instrumental para captar a qüididade do que é proposto por Deus através da Escritura ou do magistério eclesial.
Em nossos dias, entre outras manifestações religiosas contestadas, sofre, por vezes, violento ataque o sacramento da Penitência, da qual faz parte integrante a confissão das rebeldias contra o Senhor do Universo. É abrir a Bíblia e lá verificar que Cristo perdoou pecados. A cena do paralítico é típica. Por ser grande a aglomeração em torno dele, descem pelo teto alguém retido no leito por não andar. Querem a cura daquele homem. Jesus serve-se da oportunidade para mostrar que lhe compete anistiar pecados, prerrogativa que, mais tarde transmitiria aos Apóstolos. Diz então ao doente: “Teus pecados são-te perdoados”.
Os circunstantes ficaram atônitos, pois logo pensaram: “Quem pode perdoar pecados senão Deus”? Era o que o Mestre esperava, pois indagou: “Por que pensais mal em vossos corações?” Imediatamente acrescentou: “Que coisa é mais fácil dizer: São-te perdoados os pecados, ou dizer: levanta-te e caminha? Pois para que saibais que o Filho do Homem tem poder sobre a terra de perdoar pecados: Levanta-te, disse então ao paralítico, toma o teu leito e vai para sua casa. E ele levantou-se e foi para sua casa” (Mt 9, 5-7). Jesus agraciou a Madalena, a mulher adúltera, a Zaqueu e a tantos outros com um indulto total, detentor que era de uma autoridade deífica. Uma vez demonstrado que tinha faculdade de assim proceder, depois de ressuscitar gloriosamente, Ele confere aos apóstolos a sublime atribuição de perdoar os pecados. Magnífico presente pascal!
Foram muito claras as palavras do Redentor. Entretanto, é apenas para seu autêntico seguidor que há o aspecto eclesiológico do pecado, assim como a faceta eclesiológica do perdão, indissoluvelmente ligado à vontade de Deus sobre a sua Igreja. Nos dizeres de Cristo aparecem os elementos essenciais deste sacramento: a matéria, ou seja, as faltas e o arrependimento e a forma, isto é, a declaração do perdão divino pelo ministro jurisdicionado para tal. O pecado é o que mais de negativo existe no comportamento humano: é um não dado à Sabedoria eterna, que estabeleceu uma ordem ética à qual o ser racional deve livremente se submeter.
Na atitude de quem se recusa a obedecer um dos dez mandamentos, há três pontos que devem ser salientados: a perda de Deus – hamartia; a oposição a Ele – anomia; a dívida para com Sua justiça – adikia. O Criador é amor e o pecado é o não amor. Esta postura tem repercussões sociais profundas, pois qualquer infração ao decálogo é anti-social uma vez que acarreta sempre prejuízos a alguém e à harmonia geral.
De fato, a prevaricação moral como decisão livre afeta a dimensão do homem, inclusive a sua fundamental dimensão comunitária. É óbvio que há deslizes leves e outros graves, dependendo da espécie de violação legal, do conhecimento e do consentimento. É mais pernicioso mentir, lesando conscientemente direitos alheios, do que faltar a verdade em assuntos de somenos importância. Há circunstâncias que fazem um ato pecaminoso mais grave: infringir, por exemplo, o sexto mandamento com uma pessoa casada é um adultério.
A condição ou aborrecimento do mal cometido é condição essencial para que haja a remissão do erro. Implícita deve estar a resolução ou o propósito de lutar, evitando as ocasiões de pecado. Isto não quer dizer que o sacramento confere a impecabilidade. Apenas Deus é imaculável. A declaração das culpas é necessária, conforme o ensinamento da Igreja.
A 16 de junho de 1972 a Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé recordava que “a confissão individual é íntegra, bem como a absolvição permanecem o único modo ordinário pelo qual os fiéis se reconciliam com Deus e com a Igreja, a não ser que a impossibilidade física ou moral escuse de algum modo a confissão”.
Tranqüilidade íntima é o que aufere quem, bem disposto, se aproxima deste manancial de salvação que é o Sacramento da Penitência. Os dons que dele advêm são uma força medicinal que cura a ferida do pecado e uma energia espiritual, levando à adesão firme ao bem e à verdade.