Percebemos que a morte, a dor, o sofrimento e a doença são vivências humanas universais e inarredáveis. Essa é a primeira constatação que se faz ao olhar para a realidade ontológica do homem.
Podemos reduzir a dor, podemos estancá-la por um instante, mas jamais afastaremos totalmente a dor e o sofrimento da realidade humana.
Com base nessa premissa, aprendemos a olhar para a figura de Jesus Cristo e a ver que, mesmo no sofrimento, na doença, na dor, na morte, Ele pôde retirar valiosos ensinamentos para sua vida e para a vida de toda a humanidade.
Em Jesus Cristo, o sofrimento, realidade humana universal, ganha um significado, um sentido: a redenção, o amor. Não desejamos o sofrimento como um fim em si mesmo, pois, dessa maneira, seríamos masoquistas, mas acreditamos, enquanto católicos, enquanto cristãos, que, em meio à lama do sofrimento, pode haver preciosas pérolas.
Tomando esse exemplo da lama e das pérolas, talvez, seja mais fácil entender esse mistério do sofrimento humano.
Imaginemos um omem que descobre, que compreende que, no fundo de uma poça de lama, existem pérolas preciosas. Rapidamente, lança-se nessa lama e logo começa a chafurdá-la. Agora imaginemos que outro homem que, desconhecesse a existência das pérolas, visse essa cena deplorável. Ele realmente pensaria consigo: – Esse homem chafurdando a lama está louco! Qual seria o prazer de se ficar todo enlameado? Na verdade, ele não compreendeu que o prazer do primeiro homem não estava na lama em si, mas no encontrar as pérolas.
Creio que é, com esse mesmo propósito, que Jesus se atira na lama do sofrimento humano, encarnando-se no nosso meio, pois pôde, com aquela dor, conquistar valiosas pérolas de virtude, amor, humildade e redenção para a humanidade. Assim, a cruz já não é mais um símbolo de ignomínia, vileza, indignidade, mas se torna símbolo de vitória, doação, amor, sacralidade, pois ela ganhou um sentido, uma finalidade.
Em Romanos 5, 3-5, São Paulo diz que ele “se gloria até das tribulações“. Com um olhar de águia, visualiza o apóstolo que o sofrimento pode produzir a paciência, a fidelidade, a esperança, o amor, a humildade. Na verdade, não é que São Paulo ame o sofrer por si só. Ele vê além do sofrimento. O que alegra o coração de Paulo é encontrar, no sofrimento, uma possibilidade de desenvolver virtudes. “Pois sabemos que a tribulação produz a paciência, a paciência prova a fidelidade e a fidelidade, comprovada, produz a esperança.” (Rm 5, 3-4)
Ao achar um sentido em meio ao sofrimento, o sofrimento torna-se menos sofrido – poderíamos assim dizer – e surge a possibilidade transcendente, inclusive, de descobrir-se ali um caminho de felicidade. Nesse sentido, a tribulação torna-se fonte e instrumento de vitórias e crescimento pessoal e o coração, dessa maneira, altaneiro pode louvar ao Senhor por essas tribulações!
Foi essa a descoberta do salmista ao asseverar que “antes de ser afligido pela provação, errei; mas agora guardo a vossa palavra” (Sl 118, 67). Na mesma compreensão, também dizia Santo Agostinho que “a cruz é uma escola”.
Portanto, meus amigos, devemos sempre ter em mente a sábia declaração paulina de que “tudo concorre para o bem daqueles que amam a Deus” (Rm 8, 28). O único segredo é acreditar que sempre se pode descobrir pérolas sob a lama! Que tenhamos o olhar de águias!