Eu quero começar lendo com vocês Lucas 17, 11-19: “Sempre em caminho para Jerusalém, Jesus passava pelos confins da Samaria e da Galileia. Ao entrar numa aldeia, vieram-lhe ao encontro dez leprosos, que pararam ao longe e elevaram a voz, clamando: Jesus, Mestre, tem compaixão de nós! Jesus viu-os e disse-lhes: ‘Ide, mostrai-vos ao sacerdote’. E quando eles iam andando, ficaram curados. Um deles, vendo-se curado, voltou, glorificando a Deus em alta voz. Prostrou-se aos pés de Jesus e lhe agradecia. E era um samaritano. Jesus lhe disse: ‘Não ficaram curados todos os dez? Onde estão os outros nove?’ Não se achou senão este estrangeiro que voltasse para agradecer a Deus?!”
A Pastoral da Sobriedade precisa ser evangelizadora e evangelizada. Nesse sentido, a experiência com Deus é fundamental para que o milagre aconteça. Jesus não veio para realizar todos os milagres. Os milagres de Deus são sempre sinais em nossas vidas. Sempre depois de uma manifestação de um sinal de Deus, a pergunta deve ser: “O que Deus quer dizer para nós?”
A nossa fé não deve ser baseada só em milagres. Os grandes místicos: Santa Tereza, Santo Inácio, são exemplos, de santos que passaram por noites escuras e não apenas por momentos de gozo. Às vezes, nós queremos muitas satisfações: como sentir o gozo. A fé não pode basear-se simplesmente nos sentidos. A fé é mais que o gozo momentâneo.
Nós somos mais que os sentimentos. Nós podemos passar uma aridez profunda em nossa vida. Por isso, não devemos medir a nossa fé pelos sentidos. Têm muita gente que desiste da fé porque vive um sentimentalismo religioso. Há pessoas que começam o trabalho e se não recebem elogios, logo elas abandonam a missão, porque se deixaram levar pelos sentimentos.
Milagres existem e fazem parte da nossa fé. Se você olhar para o Antigo Testamento, você vai ver, que Deus tem as suas manifestações. Deus tem os seus milagres. Mas, não podemos cair em um fetichismo. Milagre vem da palavra miráculum, que significa prodígio ou sinal de Deus dirigido ao homem, que é uma intervenção de Deus na história.
Um cristão que não estuda a Palavra de Deus e o Catecismo pode cair em erros gravíssimos, por não conhecer as promessas de Deus e não alimentar a sua fé. Santo Agostinho diz que “Deus quando criou o ser humano deixou sementes divinas na história e no homem”. Milagre é quando o homem entre em sintonia com Deus. Não é a pessoa que arranca algo de Deus, ou que opõe a Deus as suas vontades. Quando nos colocamos na presença de Deus, a semente do milagre que já estava em nós germina.
Nós podemos ser protagonizadores com Deus. Podemos ser uma ponte para Deus. Devemos ser instrumentos de cura nas vidas das pessoas, mas é Deus quem age. Deus pode tudo. A natureza e o homem, sem Deus, nada podem. Deus espera o homem e a natureza amadurecer para que o milagre aconteça. Há tantas pessoas leprosas, feridas. Nós sabemos que a lepra é tenebrosa e Deus quer curar. Nós precisamos evangelizar de todo jeito. Porque o milagre é a forma plástica de Deus. O milagre é a plasticidade da promessa. O milagre ele confirma com o sinal da transformação evangelizadora.
Você age na Igreja por fé ou por prazer? Se é por fé: suporte a cruz! Em Lucas, os leprosos dizem: “Jesus! Tem compaixão de nós”. E Ele lhes diz: Vão procurar os sacerdotes”. O Evangelho diz que enquanto caminhavam ficaram curados. Jesus é sensível com as nossas necessidades.
Nós não precisamos condicionar a nossa fé. Como a fé de Tomé: “Se eu ver, se eu tocar eu terei fé”.
Nós somos da Pastoral da Sobriedade e a nossa fé não é condicionada a milagres e nem no “ver” e “tocar”. Jesus é tão paciencioso que dizer a Tomé: “Filho você é tão descrente, põe a mão!”. Mas, Jesus diz: “Feliz aquele que crê, sem precisar de ver!”.
Enquanto a Igreja caminha, os milagres acontecem. Mas, existem critérios para que aconteça o milagre: é preciso estar no ambiente religioso. Além disso, o milagre acontece no seu tempo, sem explicação. Também não basta ciência dizer: “é milagre”. A Igreja pergunta: “Isso é de piedade? Ou foi alguém que fez feitiçaria ou outra coisa do tipo?”
Não podemos dizer: “Eu quero o milagre agora!”. E nem querer todos os problemas resolvidos para ter fé. O milagre é sinal e ele toca os olhos, o olfato e o paladar. O milagre é real, histórico e pontual. Ele não é para todos, talvez depois de um tempo todos contemplam. Os milagres reais são na Igreja Católica.
Não queira seguir Jesus só por causa dos milagres. Pois, a cura acontece no caminho. O Espírito Santo vai agindo aos poucos na história. A Pastoral da Sobriedade, se cura para curar os outros. Mesmo se o milagre não aconteça hoje, caminhe, que na estrada Deus vai te curar. Deus não dá o que queremos, mas nos dá o necessário.
Há momentos que pedimos errado. Precisamos esperar a hora de Deus! O milagre é uma parte da salvação. Dos leprosos que estavam a caminho, todos foram curados, mas só um foi salvo. Nós vemos uma parte, mas Deus vê o todo. Santa Rita e Santa Mônica não pararam no tempo, não ficaram paralisadas na fé morta; mas esperaram o tempo de Deus.
Transcrição e adaptação: Jakeline Megda D’Onofrio
Fonte: http://eventos.cancaonova.com/