Advento; Sombras e Alegrias

Com o Advento se inicia a caminhada rumo ao Presépio, para a magna comemoração do nascimento do Redentor da humanidade. Peregrinação sagrada em busca de renovadas graças da vinda do Filho de Deus a este mundo. De plano, cada batizado percebe as sombras de suas imperfeições a serem corrigidas para se aproximar da “Luz verdadeira que ilumina todo homem que vem a este mundo” (Jo 1,9). Além disto, em Belém, se deu a primeira vinda de Cristo, mas ele voltará no fim dos tempos, após os sinais conturbadores na natureza. Ele alertou: “Os homens vão desmaiar de medo só em pensar no que vai acontecer ao mundo, porque as forças do céu serão abaladas” (Lc 21,26).

Cada preparação para o Natal é um apronto para o retorno glorioso do Rei imortal dos séculos, o qual aconselhou: “Ficai atentos e orai a todo momento, a fim de terdes força para escapar de tudo o que deve acontecer e para ficardes em pé diante do Filho do homem”. Tal diretriz lança, deste modo, raios de júbilo, apesar da fragilidade do ser racional. Homero, o notável poeta grego, afirmou que “a geração dos homens é como a das folhas que rodam arrojadas em terra pelo vento”. É o aspecto sombrio, mas, um dia, porque nos nasceu o Salvador, virá a face gloriosa da História e tudo será restaurado nele para o reino eterno de alegrias sem fim.

O nascimento de Jesus é o grande consolo para todos os males, uma esperança ansiosa, amorosa e ardente. Os gemidos com que os santos do Antigo Testamento suspiravam pela vinda do Messias vêm inflamar o sentimento desta expectativa.

O cristianismo não é pessimista, mas realista. Seu Fundador doutrinou, chamando à realidade da precariedade humana, porém, oferecendo todos os elementos para uma vitória altissonante. Os efeitos do pecado original são inegáveis, entretanto nasceu o Médico divino que cura todas as feridas.

Deste modo, um júbilo profundo penetra até o mais íntimo das almas. A Igreja orante, a sociedade dos que crêem nas promessas divinas, está à espera de seu bem-amado Senhor. Daí, paradoxalmente, um santo alvoroço. No advento se passa então da dúvida ao entusiasmo, do desalento à exultação. Os corações se erguem jubilosos num clamor de adoração e vassalagem: “Vinde e adoremos o Rei que vai chegar!” É um soberano que como disse o Anjo a Maria se sentará sobre o trono de Davi, seu pai.

Os reis depositarão suas coroas diante dele e, tão só reconhecendo praticamente em palavras obras sua realeza, poderemos ser salvos. Ele é a beleza sem sombras, a perfeição infinita. A comunidade dos fiéis afasta então seus temores, suas inquietações e se imerge em gozos comovedores, por entre preces, atos de contrição e adoração, numa preparação admirável, cujos acentos rompem as fibras da alma exultante. Os brados da terra sobem, deste modo, até os céus e, de lá, descem iluminações, vozes de consolo, mensagens venturosas de anjos e profetas numa antevisão de paz, serenidade, imperturbabilidade. Todos os textos litúrgicos das quatro semanas do Advento suscitam tais consoladores sentimentos. Desaparecem as turbulências interiores, a pusilanimidade, as lamentações infantis, as aflições pueris.

A dita de poder reviver, através da Liturgia, a cena presenciada por Maria, José, coros celestes, pastores e Reis Magos submerge o cristão num oceano de felicidade! É o convite bíblico que se renova: “Alegrai-vos, sempre no Senhor. Rejubilai-vos e saltai de gozo, pois Jesus nasceu para a todos resgatar para seu reino de venturas sem par”. Cumpre, desta maneira, viver intensamente todo o Advento, purificando os corações através do Sacramento da Penitência, corrigindo os erros, colocando os passos nos passos de Jesus. Este baterá, ainda uma vez, na porta de cada coração e ditoso aquele que O receber. Vale, ainda uma vez, o lembrete de um grande santo: “Temo a Jesus que passa e que pode não voltar”. É preciso corresponder às inspirações deste primeiro período do Ano Litúrgico para que se recebam todas as benesses celestiais.

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