A proposta desse artigo é entendermos melhor uma regra de ouro da literatura, qualquer que seja ela: ler o texto dentro do seu contexto. Isso significa ver o texto também como produto de pessoas diferentes e de épocas também diferentes.
Muitas vezes nos sentimos desencorajados com determinados textos da Bíblia por não conseguirmos entender essas passagens. Quem nunca leu um texto bíblico e não apreendeu quase nada do que estava escrito ali? Quem nunca se deparou com conceitos muito complicados e muito distantes daquilo que entendemos e vivemos hoje?
Isso acontece porque cada um dos livros da Bíblia faz parte de um contexto mais amplo e por se tratar de textos que foram escritos numa época muito distante da nossa. Assim a leitura se torna um pouco mais complexa e não raras vezes, incompreensível, em virtude de uma distância temporal, lingüística e cultural existente entre a redação do texto bíblico e a leitura e interpretação que fazemos hoje.
E por isso chamamos a atenção para a necessidade de uma leitura mais cuidadosa e não tão rápida e superficial, para que não ocorra uma interpretação equivocada e arriscada. Porque é natural entendermos o que lemos a partir de conceitos e a idéia que temos do mundo moderno em que vivemos, esquecendo-nos que a Bíblia é formada por textos antigos, construídos num mundo diferente do nosso.
Dessa maneira, precisamos buscar o máximo de informações sobre o texto que iremos estudar. Tudo que o cerca, de modo especial o período em que foi escrito e qual contexto histórico que o influencia. Quanto mais informações tivermos a respeito do texto, mais poderemos nos guiar pela regra literária citada no começo deste artigo: ler o texto dentro do contexto.
Mas como podemos saber mais sobre a época em que os textos bíblicos foram compostos e sob quais condições se deu esse processo de redação do texto que vamos ler?
É fácil. Basta consultarmos as nossas próprias Bíblias, pois elas nos fornecem essas informações. Precisamos conferir as introduções apresentadas antes de cada livro bíblico. Assim acontece, por exemplo, nas traduções da Bíblia como a versão da TEB, da Bíblia Jerusalém e do Peregrino. Ou ainda, como na tradução da Bíblia Ave-Maria que traz logo na sua abertura um comentário sobre cada um dos livros bíblicos.
Essas introduções são muito importantes, pois nos dão informações preciosas a respeito do livro que leremos, informações essas, muito úteis e práticas a respeito do período de composição do texto, sobre o contexto histórico no qual se deu essa redação, a qual grupo esse texto foi primeiramente dirigido, quem redigiu tal texto etc.
Claro que, caso tenhamos acesso a fontes confiáveis que podem, da mesma maneira e talvez de forma mais completa, nos fornecer essas informações, podemos e devemos usá-las, pois como dissemos anteriormente, quanto mais informações temos do texto maior será nossa segurança de que leremos o texto dentro do contexto, evitando erros e equívocos. Mas lembre-se, é importante que conheçamos bem essa literatura secundária utilizada para não consultarmos uma bibliografia que possa nos levar ao erro.
Um alerta: muito cuidado ao buscar essas informações na internet, para aqueles que fazem uso dessa ferramenta. Não tenho nada contra a internet, muito pelo contrário, sou usuário e a percebo como um facilitador da vida cotidiana. Mas infelizmente, em se tratando de estudos bíblicos, a grande maioria das coisas que vejo possui muitos erros ou estão ligados a outra doutrina diferente da católica.
Outro recurso que as Bíblias nos apresentam e que muito nos auxiliam na compreensão dos textos e que também nos fornecem informações importantes a cerca do que lemos são as notas de rodapé. Essas notas são tão valiosas porque são explicativas. Através das notas de rodapé são nos esclarecidas questões ligadas à língua, à geografia, à cultura, entre tantas outras coisas que facilitam o nosso entendimento do texto. Muitos ignoram essas notinhas, justamente por serem pequeninas, às vezes até difícil de enxergar, mas elas estão ali para servir de auxílio para que o texto se torne mais acessível a nós que estamos distantes temporal, cultural e lingüisticamente dos textos bíblicos.
Enfim, é necessário fazer uso desses recursos presentes nas nossas Bíblias como às introduções aos livros e as notas de rodapé. Esses recursos fazem, de certo modo, parte da leitura e não podemos ignorá-los. A Igreja, e nossos tradutores, conhecem as distâncias entre nós e o texto e, conseqüentemente sabem do risco de uma leitura fora de contexto. Ou seja, informações presentes na própria Bíblia, ainda que não sejam o texto bíblico propriamente dito, são não apenas importantes, mas necessárias para uma leitura da Palavra de Deus sem equívocos e que nos permita, verdadeiramente, encontrarmo-nos com o sagrado.