A origem da Campanha da Fraternidade, CF, remonta ao ano 1962, em Natal, Rio Grande do Norte. Uma iniciativa inspirada na Igreja que está na Alemanha, onde é desenvolvida a mesma atividade com o nome de “Miserior”, (Misericórdia). O que se pretendeu, desde o início, além da arrecadação de recursos materiais para socorrer necessidades concretas, é a conscientização que leva à transformação social. Para grande surpresa e alegria, já no ano seguinte a CF alcançou âmbito nacional. Sua influência ultrapassou os ambientes eclesiais, tornando-se um evento bem comentado na imprensa. Em toda sua história a CF continua sendo uma das maiores propostas de evangelização da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil.
A Igreja e a sociedade têm sido envolvidas pela importância dos temas abordados. Com o mesmo impacto, temos para este ano o tema: “Fraternidade e defesa da vida”. É muito sugestivo o lema escolhido como iluminação bíblica: “escolhe, pois, a vida” (Dt 30,19b). Tomado do livro do Deuteronômio, este versículo nos faz pensar nas escolhas que fazemos. Indo ao texto e ao seu contexto percebemos que o povo hebreu, beneficiado pela ação libertadora e salvadora do Deus da vida, é colocado por Moisés diante da grave alternativa: escolher a vida e um futuro esperançoso para si e seus descendentes, permanecendo fiel aos mandamentos de Deus, ou escolher a morte, andando por caminhos de idolatria e servindo a “deuses” fabricados para a própria conveniência. Isso vale para a globalidade das decisões humanas: nossas escolhas têm conseqüências sobre a vida e o futuro. A escolha livre e responsável do respeito à Lei do Senhor e do seu desígnio de vida significa bênção, esperança, futuro. O desprezo ao desígnio do Deus da vida e seus ensinamentos traz a desgraça, a morte.
A humanidade deveria ter aprendido com as péssimas experiências das bombas atômicas e dos campos de concentração. Mas essa lição parece difícil de ser aprendida. Tanto progresso no mundo e, em pleno século XXI, a vida tem sido tão pouco valorizada.
O egoísmo não permitiu que os recursos científicos fossem usados em benefício de todas as pessoas, a começar dos mais necessitados. O que falta mesmo é a descoberta da verdadeira referência para a vida: Deus, ao invés do próprio eu. A paz sempre foi um quesito imprescindível para a vida plena. Infelizmente os conflitos nunca chegaram a cessar completamente no mundo. Sabemos que a paz não é apenas ausência de guerra declarada com exércitos em combate. Falta paz sempre que a vida é violada. A paz é, sobretudo, a presença do amor e da justiça com os direitos garantidos. Descobrindo Deus, as pessoas seriam capazes de vencer as barreiras do egoísmo que escraviza, promove a guerra e leva à ruína.
O Brasil está infelizmente colocado entre os piores do mundo em distribuição de renda. Isto agride a vida do povo. Os que se aproveitam dessa desigualdade fazem para entender esse estado de coisas como natural. Alimentar uma política de exclusões é sempre um ato de violência. Vendido às multinacionais, o Brasil tem passado pelo desgaste terrível do empobrecimento que só não atinge uma pequena e privilegiada camada alta da sociedade. A imensa maioria tem se esbarrado numa verdadeira escravidão. Cresce o desemprego, a fome e a miséria. A globalização da economia deixa uma multidão de pessoas fora do alcance do mínimo necessário para se viver com dignidade.
Estamos em ritmo de campanha em favor da fraternidade, no que se refere à VIDA. Trata-se de um mutirão para nos conscientizarmos acerca de um tema fundamental, inserido no contexto dos direitos inalienáveis da pessoa humana, pois a vida é inviolável.