Caráter teândrico da Igreja

Diante do alvoroço com que as notícias que afetam a imagem da Igreja são divulgadas com grande sensacionalismo na Imprensa, é de bom alvitre que se tenha em consideração o caráter teândrico do Corpo Místico de Cristo. A Igreja é uma realidade divina e humana. Pio XII na Encíclica Mystici Corporis Christi explicava que, quando nesta Instituição se descobre algo que argüi a debilidade de nossa condição humana não há que se atribuir isto à sua constituição jurídica, senão à deplorável inclinação dos indivíduos ao mal, a qual o seu Fundador permite ainda nos mais altos membros da hierarquia eclesiástica, para que se prove a virtude das ovelhas e dos pastores e para que em todos nós se aumentem os méritos da fé cristã. Como dizia o Apóstolo Paulo, Jesus amou esta Igreja “e por ela se entregou a si mesmo para a santificar, purificando-a no batismo da água pela palavra da vida para apresentar a si mesmo esta Igreja gloriosa sem mácula, sem ruga ou coisa semelhante, mas santa e imaculada” (Ef 5, 24-27).

O divino que há na Igreja brilha, precisamente, com maiores fulgores no meio das sombras. Deus respeita sempre a vontade livre do homem. A melhor prova da indestrutibilidade da Igreja é, exatamente, o fato de que, apesar das múltiplas faltas dos homens, clero e fiéis, ela não pereceu e nem perecerá nunca. O próprio papa Adriano VI, em plena ofensiva luterana ordenou em 1522 a seu legado na dieta de Nuremberg: “Havereis de dizer: reconhecemos que Deus permitiu esta provação à Igreja por causa dos pecados dos homens, particularmente dos sacerdotes e prelados”. Muitas vezes se esquece que entre apenas doze Apóstolos um traiu vilmente a Jesus, o qual na hora de sua morte só pôde contemplar aos pés da Cruz, o evangelista São João. São Pedro que seria constituído Chefe de Sua Igreja, antes, O negou lamentavelmente diante das autoridades judias.  Nos Evangelhos deparamos diversas recriminações do Mestre divino a seus discípulos. A própria Igreja mostra seu caráter teândrico ao rezar se dizendo “santa e pecadora”. Diante dos pecados cometidos pelos cristãos cumpre orar, e orar muito, para que Deus proteja a todos contra o Inimigo, como Jesus ensinou: “Não nos deixeis cair em tentação”. A verdade é que medidas disciplinares têm sempre sido prudentemente tomadas pelas autoridades da Igreja, através dos tempos, com muita firmeza, mas com suma caridade, diante de toda atitude condenável por parte de qualquer elemento do Clero. Ela jamais transigiu, condescendeu compactuou com a imoralidade seja ela qual for.  É o caso, porém, de se dizer aos que se julgam impolutos, o que falou Jesus aos fariseus:  “Quem dentre vós estiver sem pecado atire a primeira pedra”.

Cumpre que se lembre o está no Salmo: “Se tiverdes em conta nossos pecados, Senhor, Senhor, quem poderá subsistir diante de vós?” (Sl 129,3). Que se oponha a virtude ao sensacionalismo rancoroso e odioso. Cumpre execrar o pecado e criar condições para que não haja o desprezo ao Decálogo, mas que cada ser humano procure primeiro, ele mesmo, estar de acordo com o Mandamentos sagrados da Lei divina. A virtude é mais luminosa que o vício. Quanta beleza há no jardim da Igreja, flores perfumadas com as ações mais gloriosas de santos eminentes. O erro e seus comparsas contam, porém, com as forças do mal para não dar ênfase ao que há de heróico na vida de milhares de batizados, leigos e Ministros ordenados.

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