A proclamação do Ano da Fé pelo Papa Bento XVI, no último mês de outubro, e a escolha da temática da fé para orientar os trabalhos da RCC em 2013 são convites explícitos a um testemunho cristão verdadeiro.
Diante de um contexto social, muitas vezes, hostil à fé, aprofundarmo-nos em tal assunto é fundamental para uma vida autêntica.
No contexto social de hoje, com modelos e exigências que conduzem os homens a crerem apenas em si próprios, nas suas capacidades, forças, talentos, planos e dinheiro, viver a fé é um grande desafio. Num mundo permeado de ideologias laicistas, hedonistas e relativistas, a fé em Deus encontra-se muito fragilizada e, na maioria das vezes, se tornou uma fé tradicional, vaga, confusa, subjetiva, superficial, fria e indiferente. O Espírito Santo quer ser o artífice da fé e vem ao mundo de hoje reavivar, dar um novo sentido à vida cristã. E a Renovação Carismática Católica, como movimento eclesial, estará em 2013 mobilizada na proclamação da fé. Como movimento profético, a RCC em todo Brasil declarará publicamente que a vitória que vence o mundo é a nossa fé (cf I Jo 5,4b). Na tentativa de colaborar na reflexão sobre esse tema, pretendo transcorrer neste artigo a via da fé contida nas Sagradas Escrituras, no Magistério da Igreja e o conceito da fé carismática.
A Fé segundo as Sagradas Escrituras
No capítulo 11 da carta os Hebreus, o autor relata repetidamente que “foi pela fé” que no Antigo Testamento tudo ganhou sentido, foi realizado e criado. O termo “fé” era usado para expressar um relacionamento interpessoal com Deus, num sentido de entregar-se a Ele (Gn 15,6; Ex 14,31; Nm 14,11), de todo o teu coração, de toda alma e de todas as forças (Dt 6,5), entregar-se à palavra salvífica de um Deus que conduz a história. Desde Abraão, a Palavra de Deus já trata da fé (Gn 22,1) provada para mostrar uma obediência fiel à voz de Deus, utilizada para designar o ato de ser firme e fiel. Assim, a fé é um ato pessoal: a resposta livre do homem à iniciativa de Deus que se revela. Ela não é, porém, um ato isolado. Ninguém deu a fé a si mesmo, assim como ninguém deu a vida a si mesmo. Por isso dizemos que nossos desejos e interesses devem fundir-se com a vontade de Deus, pois eles se manifestam se nossa fé é verdadeira e sincera, repousando unicamente na Palavra de Deus. Significa também conhecer a unidade e a verdadeira dignidade de todos os homens. Todos eles são feitos “à imagem e à semelhança de Deus” (Gn 1,27).
O apóstolo Paulo nos diz que “O justo viverá pela fé.” (Rm 1,17) – “Porque andamos pela fé e não pelo que vemos.” (II Cor 5,7). A fé, pois, é um elo do humano com o divino para trazer à vida do homem o poder de Deus na luta contra o poder do mal. No Novo Testamento a fé é relacionada de inúmeras formas, mas tendo como único centro a pessoa de Jesus, anunciando incansavelmente o Reino de Deus por palavras e obras num apelo a uma reposta na fé para a aceitação do plano de Deus. Esse plano mostra que o encontro pessoal e direto com Jesus é a fonte de conhecimento da própria existência do homem e de Deus. Que para conhecer Deus e Nele crer, devemos conhecer acima de tudo Aquele que foi enviado por Ele e Nele crer. É necessária uma entrega, um abandono como o coração de uma criança, em virtude dessa mesma fé.
A Fé segundo o Magistério da Igreja
O Papa Bento XVI, em sua carta escrita de motu próprio, ou seja, “de sua iniciativa própria”, intitulada de Porta Fidei – indica que a porta da fé , que introduz na vida de comunhão com Deus e permite a entrada na Sua Igreja, está sempre aberta para nós. A Proclamação do Ano da Fé, iniciado no último dia 11 de outubro, mostra que a identidade própria dos cristãos se dá mediante a fé, via única para o encontro pessoal com Cristo-Palavra e Cristo-Eclesia por assim torna autêntico o testemunho de ser cristão.
A Igreja precisa se opor às “marés de modismos e das últimas novidades” . Na medida em que as mudanças de época atingem os critérios de compreensão, os valores e as referências, os quais já não se transmitem mais com a mesma fluidez de outros tempos, torna-se indispensável anunciar Jesus Cristo, apresentando, com clareza e força testemunhal, quem é Ele e qual sua proposta para toda a humanidade. De um lado é o agudo relativismo, próprio de quem, não devidamente enraizado, oscila entre inúmeras possibilidades oferecidas. De outro, são os fundamentalismos que, se fechando em determinados aspectos, não consideram a pluralidade e o caráter histórico da realidade como um todo. O laicismo militante, com posturas fortes contra a Igreja e a verdade do Evangelho, a irracionalidade da chamada cultura midiática, o amoralismo generalizado. O niilismo definido como a implosão da subjetividade, como uma descrença em qualquer fundamentação metafísica para a existência humana; as atitudes de desrespeito diante do povo; um projeto de nação que nem sempre considera adequadamente os anseios deste mesmo povo.
…a vitória que vence o mundo: Fé Carismática
A fé é um dom que o Espírito Santo colocou à disposição do homem para que ele possa experimentar da onipotência de Deus. Mas, como alcançar a fé que traz a vitória? A Vitória é o resultado de quem luta!
Estamos em luta constante contra os principados e potestades, contra os príncipes deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal (espalhadas) nos ares. (Ef 6,12). O mundo, no contexto do trecho de 1 Jo 5,4b,não significa a terra como realidade temporal. O mundo, aqui, significa tudo o que resiste à Obra de Deus, tudo e todos os que não creem. Mundo como a soma de todos os poderes transitórios que se opõem a Deus. A fé como carisma – fé espectante – que todos temos em certa medida, a qual pode ser desenvolvida e tornar-se uma força vencedora na vida do homem, se manifesta quando uma pessoa é movida a ter uma confiança íntima de que Deus agirá precisamente de forma atual. Essa confiança leva a uma oração convicta, a uma decisão, a uma firmeza de atitude, a um ato que libera a bênção de Deus (cf. Mc 11, 22-23; Mt 11, 24; Ex 14, 13-14; 1Rs 18, 20-40).
Urge a necessidade de uma proclamação da fé por todos os cristãos que realiza-se através do testemunho prestado pela vida dos que creem: de fato, os cristãos são chamados a fazer brilhar, com a sua própria vida no mundo, a Palavra da verdade que o Senhor Jesus nos deixou. “A fé é o fundamento da esperança, é uma certeza a respeito do que não se vê” (Hb 11,1). Essa certeza de que Deus age é tão especial e o resultado manifesta a glória de Deus. A Bíblia nos diz que “Sabendo que a prova da vossa fé, uma vez confirmada, produz perseverança” (Tg 1,3). A fé, precisamente, é um ato da liberdade, exige também assumir a responsabilidade daquilo que se acredita. É possível cruzar esse limiar, quando a Palavra de Deus é anunciada e o coração se deixa plasmar pela graça que transforma. A Igreja que anuncia e transmite a fé imita o próprio agir de Deus que se comunica à humanidade dando o Filho, que infunde o Espírito Santo sobre os homens para regenerá-los como filhos de Deus. Temos que vencer o mundo como Cristo o venceu! “Tende bom ânimo, Eu venci o mundo” (Jo 16,33).