Evangelho segundo S. João 20,24-29.
Tomé, um dos Doze, a quem chamavam o Gémeo, não estava com eles quando Jesus veio. Diziam-lhe os outros discípulos: «Vimos o Senhor!» Mas ele respondeu-lhes: «Se eu não vir o sinal dos pregos nas suas mãos e não meter o meu dedo nesse sinal dos pregos e a minha mão no seu peito, não acredito.» Oito dias depois, estavam os discípulos outra vez dentro de casa e Tomé com eles. Estando as portas fechadas, Jesus veio, pôs-se no meio deles e disse: «A paz seja convosco!» Depois, disse a Tomé: «Olha as minhas mãos: chega cá o teu dedo! Estende a tua mão e põe-na no meu peito. E não sejas incrédulo, mas fiel.» Tomé respondeu-lhe: «Meu Senhor e meu Deus!» Disse-lhe Jesus: «Porque me viste, acreditaste. Felizes os que crêem sem terem visto».
Comentado por Santo Agostinho (354-430), Bispo de Hipona (África do Norte) e Doutor da Igreja Sermão 88
A fraqueza dos discípulos era tão grande que, não satisfeitos em verem o Senhor ressuscitado, quiseram ainda tocar-Lhe para acreditarem n’Ele. Não lhes bastava ver com os seus próprios olhos, ainda quiseram aproximar as suas mãos dos Seus membros e tocar nas cicatrizes das Suas feridas recentes. Foi após ter tocado e reconhecido as cicatrizes, que o discípulo incrédulo exclamou: «Meu Senhor e meu Deus!» Essas cicatrizes revelavam Aquele que curava todas as feridas dos outros. Não teria o Senhor podido ressuscitar sem cicatrizes? Mas no coração dos seus discípulos, Ele via feridas que as cicatrizes que conservara no Seu corpo deviam sarar.
E que responde o Senhor a esta confissão de fé do seu discípulo que diz: «Meu Senhor e meu Deus»? «Porque Me viste, acreditaste. Felizes os que crêem sem terem visto.» De quem fala Ele, meus irmãos, se não de nós? E não apenas de nós mas também daqueles que virão depois de nós. Porque, pouco tempo depois, quando Ele escapou aos olhares mortais para fortalecer a fé nos seus corações, todos aqueles que se tornaram crentes creram sem terem visto, e a sua fé tinha um grande mérito: para a obterem, eles aproximaram d’Ele, não uma mão que queria tocar, mas apenas um coração afectuoso.