José, o carpinteiro

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Os trinta anos que tu, José, viveste feliz ao lado de Jesus e de Maria constituem o que chamamos o período da vida “oculta” de Jesus.

Neste período, nada de maravilhoso, nada de sensacional, nada de brilhante. O teu nome, “José”, a tua profissão “carpinteiro” nada têm de brilhante.

A tua pessoa, “apenas um homem bom”, não ostenta nada que nos cative pela modernidade, pela grandeza, pelo poder, pela sabedoria, pela eloquência. Não temos no Evangelho uma só palavra tua…

Outros santos receberam nomes mais significativos e gloriosos: São Pedro “Apóstolo”, São Miguel “Arcanjo”, Santa Rita “Advogada dos Impossíveis”, São Gregório “Magno”…

Tu, porém, José. Simplesmente, José.Tua figura contrasta com os nossos sonhos de vir a ser protagonistas, importantes, heróis, magnatas por vocação, cobiçadores de títulos pomposos de reis e rainhas, príncipes e nobres ou pelo menos doutores!

Perdoa-nos, José, se não te achamos interessante. Se não aceitamos o teu jeito de ser. Se, por favor e respeito, te achamos o “segundo-da-fila” mais ilustre da história humana.

Os escribas e os fariseus, querendo convencer a si mesmos e aos outros da pouca categoria de Jesus, perguntavam com desprezo: “Não é este o filho do carpinteiro?”

Tu, José, deste o pão ao teu filho, ensinaste-lhe o trabalho da plaina, do serrote e do martelo, mas status e títulos de nobreza, não lhe deste.

As tuas mãos calejadas falavam em bom som da tua pouca categoria. E essa foi a herança que transmitiste a teu filho. Ele, como tu, um “carpinteiro”.

As mesmas mãos calejadas que um dia desposariam a cruz, o mesmo martelo desgastado pelo uso, o suor das duas frontes, a tua e a do teu filho, caindo ao vaivém da plaina e do serrote, a mesma roupa surrada passada de pai para filho, a mesma oficina de quintal, a mesma linguagem mal concordada e o típico sotaque interiorano, a mesma comida pouca e monótona dos pobres de Nazaré, a mesma vontade louca de reencontrar, após o trabalho, aquela mulher maravilhosa, Maria, que amavas como esposa e Jesus, como mãe. Perdão, José, se não te compreendemos.

Se não encarnamos as oito bem-aventuranças evangélicas, nem as oito mil renúncias que elas encerram. Porque achamos que os pacíficos são alienados, que os que agüentam perseguição são faltos de coragem, que os misericordiosos são assistencialistas, que os pobres são incompetentes, que os mansos não têm caráter e que aos limpos de coração falta ousadia.

Os próprios evangelistas pouco dizem de ti. Nunca citam uma palavra tua. Não nos contam um só milagre saído das tuas mãos. Nem escreveste uma só “epístola” aos nazarenos …

Apenas nos dizem que eras justo, que eras um homem bom. Um elogio de segunda classe que fazemos a qualquer um depois de morto. Uma espécie de prêmio póstumo de consolação que atribuímos a alguém que não é nem muito sábio, nem muito poderoso, nem muito empreendedor, nem ministro, nem autoridade.

Tudo isso escondido na pessoa de um simples carpinteiro, de um zé-qualquer que encarnou como ninguém a humildade, o silêncio, o trabalho, a fidelidade. Ensina-nos, São José, a ocupar com dignidade e decência o “segundo lugar da fila” do reino de Deus, na qual tu foste um colosso e na qual temos de atuar 99% dos mortais, que não somos heróis, nem ministros, nem primeiras-damas, nem artistas, nem idosos, nem miss universo, nem ouro, nem prata, nem bronze .. Ensinam-nos a entrar e sair pela porta dos fundos da sociedade; a subir e descer pelo elevador de serviço da Igreja e do Reino de Deus.

A ser úteis, se necessário, na oficina de fundo de quintal, na mina e na construção, recolhendo lixo ou no serviço doméstico como Maria. Sem que com isso fique diminuído um átimo da nossa dignidade e do nosso valor. Foi assim que sustentaste Maria, fizeste crescer Jesus, o construtor do Reino.

A tua figura, José, não inspirou maiores escultores, pintores e poetas. Colocam-te como figura decorativa e de terceira classe nas suas obras. Apareces lá como um velhinho barbudo e decadente ao lado de uma jovem exuberante e de singular beleza. Em nome de todos eles, prezado José, te pedimos perdão.

Em parte é tua a culpa, pois propositadamente quiseste desaparecer, encarnando o conselho de João Batista: “Convém que Ele cresça e eu diminua.” Mas… José, porque és esposo de Maria, pai de Jesus, porque és preferido de Deus, padroeiro da Igreja, modelo de pai, nós te consideramos, junto com Maria, “o primeiro da fila” do Reino de Jesus, teu filho, a quem todas as gerações proclamam feliz e de ti se dizem, por toda a parte, grandes maravilhas.

Escrito por: Pe. Gabriel Galache, SJ

Fonte: http://sabercatolico.blogspot.com.br/2014/04/jose-o-carpinteiro.html

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