Em nossas comunidades, a cada ano, temos nesta época um espetáculo bem característico: crianças revestidas de longas túnicas dão uma leveza especial aos ares do corrido dia-a-dia… Suas asas nos fazem voar ao infinito de tantas recordações… Afinal, maio é mesmo assim, uma mistura de festa e alegria, canções, flores e doces, sinos…
Seria superficial ou até errada esta prática?
Parece-me que não. Ou, pelo menos, tem tudo para não ser. Certamente há deficiências e equívocos que merecem reparos. Em geral as iniciativas humanas muitas vezes, ao longo dos tempos, podem se esvaziar de seu verdadeiro sentido.
Como resgatar o sentido desta paraliturgia?
Mais do que dar respostas, prefiro continuar perguntando. Contudo, temos alguns sinais que pontuam a construção da clareza do sentido das coroações:
1) Trata-se de um mel que atrai ao seio da comunidade quem dela se afastou. Pode ser, neste caso, o pai ou a própria mãe que, trazendo as “coroantes”, acabam se beneficiando, sobretudo se a celebração for bem preparada;
2) O convívio, principalmente das mães e das meninas, com os animadores do evento e demais membros da comunidade;
3) A catequese feita através das encenações, cânticos, orações, etc.
4) A vida da comunidade que abre as portas do templo mais vezes e traz o povo para o encontro fraterno;
5) A fé alimentada. Quando é realizada a celebração, oportunidade em que nos alimentamos na Mesa da Palavra e da Eucaristia;
6) A criatividade que sempre complementa o gesto central da coroação;
7) O discernimento dos sinais. O uso da Imagem representando Maria. A coroa de flores, simbolizando a vida pessoal e comunitária;
8) Certamente há muito que acrescentar a tantos valores. Uma boa formação catequética é sempre oportuna para iluminar tal prática, corrigindo-lhe os desvios;
9) Após o acréscimo, penso que vale a pena concluir com um gesto concreto. Oportunidade para ir além das encenações. O primeiro deles é redescobrir e aprofundar o lugar de Deus e de Maria Santíssima em nossa vida. Reinam mesmo? Correlacionado a este, vem o segundo: o aprendizado diário, substituindo as telenovelas pela vivência comunitária. Formação na ação. Finalmente, confirmando que aprendeu a lição: o gesto de amor. O que Deus nos pede a partir do que estamos celebrando? Fico sempre admirado com as iniciativas de várias comunidades. Peço licença para citar o que acontece no Santuário Santa Rita de Cássia, onde as crianças levam, no ofertório, alguma coisa para os seus irmãos mais sofridos e atingidos pela dor e pela pobreza. Abastecem a sala da Pastoral Carcerária e Recuperandos da APAC (Associação de Proteção e Assistência aos Condenados) e reforçam o trabalho social da Paróquia.
Certamente para estas famílias que desejam crescer no amor ao próximo, começando pelos mais enfraquecidos, Jesus vai dizer: “Venham vocês, que são abençoados por meu Pai. Recebam como herança o Reino que meu Pai lhes preparou desde a criação do mundo. Pois eu estava com fome, e vocês me deram de comer; eu estava com sede, e me deram de beber; eu era estrangeiro, e me receberam em sua casa; eu estava sem roupa, e me vestiram; eu estava doente, e cuidaram de mim; eu estava na prisão, e vocês foram me visitar”. (Mt 25, 34-36).
A coroa nem é tanto aquela feita de lindas flores. É simplesmente simbólico e sugestivo. Homenagear a Mãe do Céu cuidando de seus filhos e filhas mais desamparados. As crianças, em sua pureza, nos dão o exemplo para que coroemos no templo e na vida!