Na Quaresma se inicia a preparação próxima para o maior dia do ano que é a Páscoa. Trata-se de um tempo de penitência e de renovação interior, ou seja, uma conversão total do coração. Os quarenta dias lembram Jesus no deserto em oração e no mais total sacrifício (Mt 4,1). Ele deixou para todos os seus seguidores o exemplo de como vencer as artimanhas do demônio. Cumpre uma purificação radical numa imersão completa no amor a Deus e ao próximo. Uma atitude de metanóia, ou seja, mudança de mentalidade para uma situação espiritual ainda mais perfeita. Mister se faz um conjunto de atos interiores e exteriores, tendo em vista a própria santificação. Mudança de vida, isto é, uma volta ainda mais intensa para Deus, na vitória completa sobre o egoísmo, numa intensificação da prática das virtudes teologais. A penitência interior de cada cristão pode ter expressões as mais variadas. A Bíblia e os Santos Padres insistem em três formas: o jejum, a prece e a esmola (Tb 128; Mt 6,1-18) e isto expressa a metamorfose em relação a si mesmo, a Deus e ao próximo. Daí o desejo da conversão dos pecadores através da invocação dos santos que ajudam neste benemérito apostolado de preces ardentes. A Igreja, sobretudo no período quaresmal, recorda a obrigação de todo cristão de aderir à penitência na alheta do ensinamento de Jesus: “Se não fizerdes penitência, todos vós perecereis” (Lc 13,3-5). Foi por isto que, mormente a sexta-feira, é dia penitencial, na lembrança Morte de Cristo no Calvário e toda a quaresma que leva à Sexta-Feira da Paixão. Não se trata de se praticar nada extraordinário, mas um maior fervor nas orações diárias, às obras de piedade e caridade como está no Código do Direito Canônico (CIC 1249-1250). O jejum e a abstinência são prescritas para a Quarta-Feira de Cinzas e a Sexta-feira Santa (CIC 1251). O que realmente importa é o e espírito de penitência que deve caracterizar todo cristão. É um compromisso diário da busca de uma vida espiritualizada, de total união com Deus. É a renúncia das coisas, das pessoas, das situações e de si mesmo. Daí a dor causada por toda negligência e, até pelas mínimas faltas, embora cada um reconheça humildemente que só Deus é perfeito e santo. Entretanto a compunção se prolonga na existência cotidiana daquele que foi batizado, se configurando com Cristo. Consiste, deste modo, num ato religioso pessoal e comunitário que tem como referencial o amor ao Ser Supremo. Diante dele o fiel reconhece sempre a necessidade da misericórdia e do perdão divinos. A penitência assim concebida da consistência à vida do discípulo de Jesus. A austeridade e a contemplação são dois pilares da penitência. O rigor espiritual se manifesta na fuga de tudo que é supérfluo e na perfeição na execução dos menores atos. A contemplação se dá na imersão na luz divina que ilumina a mente aquece o coração na dileção de Deus que é amor. A dimensão penitencial tem uma poderosa força purificadora e é a conquista do equilíbrio interior, equilíbrio que abre a pessoa humana para uma autêntica atmosfera cristã da presença trinitária. Daí. não a multiplicação de preces, mas orações habituais repletas de fervor e atenção e, para isto, o tempo quaresmal é peculiarmente favorável. É o momento de se alcançar ainda mais intimamente o próprio Deus que habita em quem está em estado de graça. Graça que justifica e santifica junto a este Deus, por Jesus como dom do Espírito Santo. É preciso usufruir e degustar esta presença de Deus, dialogando continuamente com as Pessoas da Trindade. Assim procediam os santos como Santa Gertrudes, Santa Teresa de Ávila, São Bento, São João da Cruz numa vivência repleta de provações compensadas pela força daquele que é um Rochedo e oferece a total libertação. A Quaresma é o período favorável a se aprofundar todas estas verdades e, então sim, a Páscoa raiará com novas esperanças na caminhada para o Reino de Deus já vivido em parte nesta terra.