Após os preparativos dos 40 dias que vivemos durante a quaresma, chegamos agora à celebração da Páscoa – a grande celebração do mistério e da vida cristã: Jesus Cristo ressuscitado, aquele que passou pela cruz, venceu a morte e nos salvou! Mas, afinal o que é a Páscoa? Qual o seu significado e como podemos vivenciá-la bem nos dias de hoje?
A beleza da liturgia que a Igreja nos propõe ao longo de todo o ano, mediante o calendário e as festas litúrgicas traz em si um rico significado e grande ensinamento: o cristão é um povo em constante preparação. É um chamado à vigilância e a vivermos bem o tempo que temos.
Por exemplo, o advento nos convida a receber dignamente o Menino-Deus que vem e quer ficar conosco, Maranatá (I Cor 16, 22). Já a quaresma nos anima a uma conversão mais profunda, a fim de que possamos entrar no mistério de amor de Nosso Senhor que morreu e ressuscitou por nós e quis permanecer conosco até o fim dos dias mediante seu corpo e sangue, a Eucaristia. Após a festa da Páscoa, os apóstolos continuaram esperando – ou melhor dizendo, expectando – pelo cumprimento da promessa, a vinda do Espírito Santo, o dia Pentecostes.
Portanto, somos o povo que espera e, enquanto espera se prepara (pois não se trata de promover uma espera passiva). Em tudo isso, vemos a Igreja, como Mãe, Mestra e Educadora, a nos ensinar a importância da oração e da vigilância, pois não sabemos o dia nem a hora (Mt 25, 13). Enquanto estamos aqui, não descansamos, não cochilamos, senão que ativamente ficamos “pendentes” nos preparando para o novo que virá. A liturgia é uma escola que nos ajuda a interpretar e viver melhor os mistérios de Deus. Pois bem, em particular neste tempo que estamos vivendo, “em preparação” para a Páscoa, somos convidados a ter um olhar atento e diferenciado para o seu significado em nossa vida de cristão e de católico.
A palavra Páscoa vem, originalmente, do hebraico Pessach e pode significar saltar, passar por cima ou, como é mais comumente traduzido, passagem. Para o povo hebreu, a Páscoa é a festa da libertação – em referência à libertação do povo de Deus das mãos do faraó realizada por Moisés (Ex 12).
Jesus, ao celebrar a Santa Ceia, imprimiu um novo significado a esta celebração. Não se tratava mais de uma lembrança, recordação, um “fazer memória”, daquilo que os primeiros pais haviam vivido e como Deus operou em seu favor a libertação, como era a Páscoa celebrada entre os judeus (Seder, a ceia judaica). Mas a Páscoa, em Jesus, é ressignificada. Enquanto para os judeus ela se refere à passagem do Egito para a liberdade na Terra Prometida, para o cristão esta passagem agora se faz da morte para a vida; da vida velha para a vida nova. Jesus, ao morrer na cruz, vence a morte com sua morte e nos dá acesso para uma nova vida Nele. Tanto é a Sua passagem da morte na cruz para a ressurreição, quanto é também a nossa passagem para a vida plena e abundante que temos em Nosso Senhor.
Neste sentido, todo cristão é chamado a ter uma Vida Pascal, ou seja, uma vida em constante mudança, de conversão diária, continuamente ser sepultado com Cristo para o pecado (Rm 6, 4) e às coisas do mundo, a fim de ressuscitar também com Cristo para uma vida nova junto do Pai, no poder do Espírito Santo. É esta a vida a qual Nosso Senhor tem para nós. Nada menos que isso.
A Páscoa é ainda considerada entre os judeus uma festa de peregrinação. O sentido cristão desta festa é semelhante: somos peregrinos nesta terra. Devemos, pois nos apegar àquilo que não passa e “deixar passar o que passa”! Somos peregrinos nesta terra e nossa morada definitiva é o céu, a pátria celeste. Por isso, celebrar a Páscoa não é celebrar apenas mais uma festa ou rito entre outros, mas, uma vez que a Páscoa é a festa das festas, a grande semana, o grande domingo (Cf. CIC 1169), celebrar o mistério pascal é mais do que uma recordação ou uma atualização.
Trata-se, na verdade, de um “desdobramento dos diversos aspectos do único mistério pascal” (CIC 1171), ou seja, a Santa e Última Ceia, acontece de novo a cada celebração eucarística e, de modo particular é revivida neste tempo da semana santa, ou hebdomada maior, como diziam os latinos. Assim, o memorial da paixão, para além de ser uma simples recordação, ou lembrança de acontecimentos pretéritos, é torná-los presentes, atuais e vivos novamente a cada celebração.
E o que celebramos? Celebramos Cristo Vivo e Ressuscitado! “Por que procurais entre os mortos Aquele que vive? Ele não esta aqui; ressuscitou” (Lc 24, 5-6). Jesus Cristo ressuscitou, Aleluia! Sim, ele verdadeiramente ressuscitou, Aleluia! A alegria com que os primeiros cristãos se saudavam seja a nossa nestes dias em que nos aproximamos da maior festa do cristianismo. É tempo de se deixar mergulhar no mistério. Mistério da morte, mistério da ressurreição, mistério da Eucaristia, mistério de amor.
Queridos irmãos e irmãs, peçamos que uma vida nova possa surgir a partir desta Páscoa celebramos. Que seja, de fato, uma passagem do velho para o novo. Jesus nos deu acesso ao Pai e à sua vida divina, pela sua Paixão, Morte e Ressurreição. O convite está feito e aberto a todos nós. Vivamos uma santa e abençoada Páscoa. É tempo de vida nova. Que a alegria e a vitória do Ressuscitado nos iluminem e transformem nossas vidas. Amém!