Como pesquisador na área das Ciências da Religião, comecei a me interessar pela seguinte questão: Por que se fazer uma experiência religiosa?
Começo do princípio que temos basicamente dois tipos de pessoas no mundo: de um lado aquelas que regem à vida guiadas pelas suas experiências religiosas, e de outro, as que ignoram ou não consideram a religião como parte de suas vidas.
Mircea Eliade, importante historiador das religiões, entende como sendo essas, as duas modalidades de ser no mundo. Ele classifica essas categorias chamando-as de sagrado e profano respectivamente. Nesse caso, sagrado diz respeito àquela pessoa que conduz sua vida a partir das hierofanias, ou seja, a partir de realidades sagradas que se lhe revelam. Já o termo profano está relacionado à pessoa que se propõe viver num mundo dessacralizado, que por opção, se priva das experiências religiosas.
Respeito profundamente às pessoas que escolhem por essa segunda opção, mas não posso deixar de dizer que acho essa escolha um tanto quanto difícil e porque não, meio deslocada.
Difícil porque é da natureza humana essa busca pelo transcendente. Desde os primórdios o homem procura entender mais sobre a origem e o sentido da vida, sobre a morte; se relaciona com as divindades e poderes sobrenaturais…
O Catecismo da Igreja Católica no parágrafo 2566 afirma: O homem está a procura de Deus, pois foi criado por Ele e mesmo perdendo a proximidade com o criador, por causa do pecado, ainda sim, continua sendo imagem e semelhança dele e por isso conserva esse desejo por Deus. Segundo o catecismo todas as religiões testemunham essa procura essencial dos homens.
E deslocada porque, nossas culturas, tanto ocidental quanto oriental são permeadas, ainda hoje, pelas manifestações e interlocuções com a transcendência. Peguemos por exemplo as manifestações artísticas: Várias delas apresentam representações da religiosidade.
Exemplos são os mais variados: na pintura o holandês Rembrant com o seu belíssimo quadro o Retorno do filho pródigo; na escultura o artista do barroco mineiro, Aleijadinho com os doze profetas; na literatura o russo ortodoxo Fiódor Dostoievski com Crime e Castigo, que relata a vida de um jovem e seu encontro com a Bíblia; no teatro Ariano Suassuna com o Alto da Compadecida, obra baseada na literatura de cordel e na piedade do nordestino.
E por aí vai… Exemplos são inúmeros… Artistas conhecidos mundialmente que refletiram a religiosidade em suas obras. Isso sem contar a presença desse reflexo nas outras áreas de conhecimento.
Assim sendo, se desde os primórdios e até hoje o homem busca respostas para as questões relacionadas ao sentido da existência humana; se as pessoas buscam, mesmo que inconscientemente a Deus e todas as religiões testemunham essa procura; se a nossa cultura está permeada pela influência religiosa das mais variadas formas; termino o texto invertendo a pergunta inicial: Diante dessas constatações por que deixar de fazer uma experiência religiosa, por que não me tornar uma pessoa religiosa, ou seja, que passa a enxergar o mundo, as outras pessoas, a si mesmo, a vida… de uma maneira diferente, de uma maneira mais sagrada?
Que Deus nos abençoe!