As parábolas dos vinhateiros fixam uma das lições mais importantes da pregação de Jesus que é a necessidade de uma vida espiritual produtiva (MT 21, 33-43). Aos sumos sacerdotes e aos anciãos do povo Cristo advertiu: “O reino de Deus vos será tirado e será entregue a um povo que produzirá frutos.” (v 43). Aliás, isto é condição para ser seu seguidor: “Nisto é glorificado meu Pai, para que deis muito fruto e vos torneis meus discípulos” (Jô 15, 8). Acentuou: “Não fostes vós que me escolhestes, mas eu vos escolhi e vos constitui para que vades e produzais fruto, e o vosso fruto permaneça” (Jô 15, 16). Tratas-se de um desafio sublime para o cristão. São Paulo decodificou magnificamente tal lição e ensinou aos Gálatas que são estes os frutos: paz, alegria, longanimidade, bondade, benignidade, paciência, mansidão, modéstia, castidade, continência, caridade, como se lê na Vulgata (Gl 5,22-23). O termo fruto aparece sessenta e seis vezes no Novo Testamento o que lembra, outrossim, se multiplica essa imagem, pois Deus espera sempre frutos de sua vinha. Segundo Davi o justo “é como a árvore plantada na margem das águas correntes: dá fruto na época própria, sua folhagem não murchará jamais. Tudo o que empreende, prospera”. (Sl 1,3) Bela a metáfora do Livro dos Provérbios: “O fruto do justo é uma árvore de vida” (PR 11,30). Segundo o Profeta Jeremias, este será o critério da recompensa do Onipotente, ao qual assim se dirige: “Sois grande em vossos desígnios, poderosos em vossas realizações e vossos olhos se acham abertos para todos os destinos dos homens, a fim de retribuir a cada um de acordo com sua conduta e os frutos de seus atos” (Jr 32, 19). Entretanto, Deus que espera uma existência frutuosa de cada um, oferece os meios para que tal se realize. Lê-se, com efeito, no Profeta Oséias o que o próprio Ser Supremo afirma: “Eu sou como o cipreste sempre verde: graças a mim é que produzes fruto” (Os 14,8). Para isto é preciso que o ser pensante esteja enraizado em Deus, como está no Livro da Sabedoria: “Porque conhecer-vos, Senhor, é a perfeita justiça, e conhecer vosso poder é a raiz da imortalidade” (Sb 15,3). Eis por que afirma o livro dos Provérbios que “a raiz dos justos não será abalada” (PR 12,3). Cumpre, assim, cultivar raízes espirituais. Isto se dá quando o fiel procura penetrar fundo na Palavra de Deus. Lançar raízes em Jesus e construir a existência nele, solidificando na fé e servindo-o com grande ardor e perseverança. Deste modo, se arrancam as ervas más dos vícios e das paixões que impedem a produção de frutos opimos para a eternidade. Entre as plantas venenosas que paralisam a vida cristã se arrolem o apego às coisas passageiras desta vida; a inquietação, a qual é resultado da falta de confiança no Pai do céu; os prazeres mundanos que bestializam os batizados. Contudo, a presença da erva má é sempre sinal de negligência espiritual, falta de oração, de meditação, de caridade fraterna. Quando não se coopera com a graça divina todos os males acontecem. A união com Jesus deve ser fecunda, generosa, na administração sábia dos problemas cotidianos, dos sofrimentos diários. De fato, disse o Mestre divino: “Todo sarmento que dá fruto, o Pai o poda a fim de que dê mis frutos” (Jô, 15,2). A ascese, a mortificação são, deste modo, também um recurso para frutescer, resultando uma atmosfera espiritual fecunda. Trata-se de se cultivar a alma pelas boas ações alimentadas por uma vida sacramental intensa. Cada um deve ser um jardineiro a cuidar do seu jardim interior. Esta experiência de Deus vivida na docilidade total do Espírito Santo se transforma numa atitude permanente, num conjunto de hábitos intelectuais e psíquicos. O triunfo, contudo, não vem das forças humanas, mas do auxílio divino que nunca é negado a quem se firma em Cristo, o Vinhateiro sábio e poderoso. Deste modo, é preciso nunca querer usar bazooka ou kalachnikov, pois os instrumentos para produzir frutos são as armas do espírito de que fala São Paulo: “Despojemo-nos das obras das trevas e vistamo-nos das armas da luz” (Rm 13,12). Com tais armas a semente recebida no Batismo produzirá frutos abundantes, pois asseverou Jesus: “Aqueles que recebem a semente em terra boa escutam a palavra, acolhem-na e dão fruto, trinta, sessenta e cem por um” (Mc 4,20). Tal deve ser o ideal do verdadeiro cristão.