Tenho 22 anos de casada, destes aproximadamente 14 anos vivemos a situação de desemprego. Quero que entendam, não foram 14 anos desempregados, mas foi um período em que sempre voltávamos a esta situação. Por esta experiência senti necessidade de falar em casamento com desemprego, onde no amor conjugal é provada a nossa fé e, principalmente, nossa esperança. Muitos casamentos, às vezes de anos, terminam quando surge o desemprego, acreditem, o término do relacionamento não acontece por falta de amor, mas é porque falta o sustento em Deus e em vida de comunidade. Dimas e eu não teríamos conseguido sem esta vivência.
A Palavra que me sustentou neste período foi esta: “Quem nos separará do amor de Cristo? A tristeza? A angústia? A perseguição? A fome? A nudez? O perigo? A espada? Realmente está escrito: Por amor de ti somos entregues à morte o dia inteiro, somos tratados como gado destinado ao matadouro. Mas, em todas estas coisas, somos mais que vencedores pela virtude daquele que nos amou.” (Rm 8, 35-37) Com o desemprego sempre chegava em minha casa a doença, os nossos filhos passavam a viver gripados, com pneumonia ou desidratação, esta era a parte mais dolorosa porque sabíamos que o que faltava em nossa mesa favorecia todos estes males e o sentimento de culpa nos abatia. Não passamos fome, mas fruta, verdura e leite faltavam. Todos os domingos íamos a família toda à Missa e eu frequentava o Grupo de Oração com os quatro filhos, então eu encontrava na comunidade apoio espiritual e principalmente bons conselhos.
Neste período os desentendimentos eram constantes porque havia a necessidade física, a decepção e frustração. Por várias vezes recorremos ao louvor ping-pong, é o louvor que o casal faz a Deus pelas qualidades do outro, como a bolinha de ping-pong não pode parar e passa rápido de um lado para o outro, assim acontece, eu louvava a Deus por uma qualidade do Dimas e ele rapidamente respondia louvando a Deus por uma qualidade minha. O período de desemprego o casal tem que reconhecer a qualidade um do outro, Santa Mônica (mãe de Santo Agostinho) repreendia as amigas por falarem mal dos maridos, o quanto mais falamos dos defeitos do outro, tanto mais se torna penosa a convivência com a pessoa. Os defeitos gritam e as qualidades são silenciosas, não incomodam e por isso não damos tanta atenção a elas. Aprendemos que os momentos mais conturbados não são apropriados para tomarmos decisões que poderiam mudar toda a nossa vida e de nossos filhos. Sempre voltávamos ao diálogo e a oração, foram diversas novenas, sem contar as orações dos irmãos de comunidade que estavam mais próximos de nós. Não estou dando um testemunho de um casamento perfeito, sem brigas e dificuldades, o meu testemunho é que Deus reinou no caos de minha vida e meu casamento através da comunidade da RCC de Viçosa. Um casal em situação de desemprego ou dificuldade financeira, muito mais que uma cesta básica, precisa de ser tratado com a dignidade de filho de Deus e receber o suporte espiritual, como os quatro jovens que levaram o amigo paralítico à presença de Jesus (Mc 2, 1-12).
Hoje quando o Dimas e eu olhamos para traz sentimo-nos muito felizes e vitoriosos por tudo que passamos, quando vem a dificuldade nós dizemos um para o outro Graças a Deus a situação já foi muito pior. Construímos nossa família na dificuldade sim, mas dentro da Igreja, acreditando que “pela virtude de Cristo é que somos mais que vencedores” Quero aqui, através da minha experiência dizer com toda certeza que Deus é a solução de todos os nossos problemas, mas Ele conta com a Comunidade desde o princípio – “Unidos de coração frequentavam todos os dias o templo” (At 2, 46a) – a situação de desemprego é o fogo onde é provada a nossa fé e que nos fortalece no relacionamento com Deus, a família e a comunidade. É maravilhoso ver depois da tempestade o arco-íris (sinal da aliança de Deus – Gn9,13) de mãos dadas com quem amamos. Mesmo que hoje esteja parecendo que as coisas nunca vão mudar, não esmoreça na fé, Deus se faz presente entre os irmãos e eles são o nosso suporte.