A declaração de que “a Palavra é mais do que a Bíblia” assumiu um espaço fundamental na relação geral pronunciada nesta segunda-feira pelo cardeal Marc Ouellet, P.S.S., arcebispo de Québec, relator geral da assembléia, que elucidou um mal-entendido histórico: o cristianismo não é a religião do Livro.
“A Palavra de Deus significa, antes de tudo, o próprio Deus que fala, que expressa em si mesmo o Verbo divino que pertence a seu mistério íntimo”, declarou.
Esta Palavra, disse em sua longa relação pronunciada em latim, sentado junto ao Papa na sala do Sínodo dos Bispos, fala de maneira particular e ao mesmo tempo dramática na história dos homens, em especial, da escolha de um povo, da lei de Moisés e dos profetas, assegurou.
Acompanhando suas palavras com imagens tomadas da arte, que eram projetadas em telões no Sínodo, o purpurado canadense explicou que, depois de Deus ter falado de muitas maneiras, a Palavra “resume e coroa tudo de uma maneira única, perfeita e definitiva em Jesus Cristo”.
Assim, a Palavra não é um simples texto escrito, insistiu, é o amor de Deus feito homem em Cristo. Isto significa que a Palavra de Deus estabelece uma relação de amor, pois interpela diretamente o homem.
O cardeal William Joseph Levada havia tomado a palavra um pouco antes para explicar que “existe uma inseparável unidade entre a Sagrada Escritura e a Tradição, já que ambas procedem de uma mesma fonte”.
“A Sagrada Escritura é a palavra de Deus enquanto se consigna por escrito sob a inspiração do Espírito Santo, e a Sagrada Tradição transmite na íntegra aos sucessores dos Apóstolos a palavra de Deus, a eles confiada por Cristo e pelo Espírito Santo para que, com a luz do Espírito da verdade, eles a guardem fielmente, exponham-na e a difundam com sua pregação”, declarou o sucessor do cardeal Joseph Ratzinger, citando a Dei Verbum, do Concílio Vaticano (II, 9).
As intervenções dos padres sinodais começaram nesta segunda-feira, com o cardeal Angelo Sodano, decano do Colégio Cardinalício, que pediu ao Sínodo que não reduzisse a Palavra à escrita, “contida na Bíblia, mas que também compreende a Palavra oral, contida na Tradição da Igreja”.
Fonte: Biblica Católica